De regresso ao futebol português após dois anos nos Países Baixos, Zé Pedro confessa que já tinha vontade voltar a casa, mas que o convite do Belenenses lhe deu ainda mais força para concretizar essa intenção. Honrado por poder ajudar os azuis do Restelo a reerguerem-se na hierarquia nacional, frisa que quer muito escrever o seu nome na história do clube.
Em entrevista, o lateral esquerdo luso-angolano passa em revista uma carreira iniciada nas camadas jovens do União de Tires e que teve como pontos altos a subida do Real SC à II Liga em 2017 e os jogos que realizou no segundo escalão ao lado do agora avançado benfiquista Carlos Vinícius e recorda as abordagens não concretizadas para representar os Palancas Negras.
Depois de dois anos no FC Eindhoven, da II Liga Holandesa, o Zé Pedro está de regresso a Portugal para representar o Belenenses, que subiu recentemente ao Campeonato de Portugal. O que o fez voltar ao futebol português?
– O que me fez voltar a regressar a Portugal foi a vontade imensa de querer voltar para casa. E um convite de um clube como o Belenenses surgir numa altura em que tinha esta vontade foi uma grande força para concretizar esta minha vontade.
Embora a jogar no quarto escalão, a história do Belenenses mexeu consigo no momento de tomar esta decisão?
Todos sabemos o que é o Belenenses. Ter a oportunidade de ajudar o clube a voltar onde merece estar é uma grande honra para mim.
Que projeto lhe foi apresentado e quais são os objetivos da equipa para 2021-22?
O projeto do Belenenses é público e claro: voltar à I Liga. Por isso, logicamente que o objetivo para esta época é a subida de divisão.
Para os adeptos do Belenenses que não o conheçam e que estejam a ler esta entrevista, o que lhes pode dizer em relação a quem é o Zé Pedro e quais as suas características? É um lateral esquerdo e tem 1,83 m…
O Zé Pedro é um jogador quem vem para dar tudo pelo clube. Quero muito escrever o meu nome na história do clube. Considero-me um jogador agressivo, que sabe defender e atacar. Uma das minhas principais qualidades é apoiar muito o ataque e criar situações de golo.
Onde nasceu e cresceu? Como foi a sua infância?
Nasci e cresci em Cascais. A minha infância foi toda ela como tantas outras crianças que sonham um dia ser jogadores de futebol. Ainda cheguei a praticar atletismo em simultâneo com o futebol, mas quando a minha mãe me exigiu escolher nem hesitei e optei pelo futebol.
Embora tenha nascido em Cascais, o Zé Pedro tem nacionalidade angolana. Alguma vez foi contactado pela Federação Angolana? Representar os Palancas Negras é algo que ambiciona?
Em 2014 e 2018 houve pequenas abordagens para representar a seleção angolana, mas acabou por nunca acontecer.
Quais são as suas raízes em Angola?
Toda a minha família nasceu em Angola, apenas eu nasci em Portugal. Aliás, apenas a minha mãe, o meu irmão e um tio é que vivem cá em Portugal.
Começou a jogar futebol no União de Tires. Que memórias guarda desses tempos?
Do União de Tires guardo grandes recordações, pois foi o primeiro clube em que joguei federado e é o clube da minha formação. Acho que os primeiros toques na bola nunca esquecemos, até porque fiz lá amizades que se tornaram para a vida.
Entre 2012-13 e 2014-15 representou os seniores do Sintrense. Que balanço faz do tempo que passou no clube de Sintra?
O meu balanço no Sintrense foi extremamente positivo, pois na minha primeira época lá alcançámos a subida de divisão. Foi onde também vivi pela primeira vez uma vida no futebol muito mais profissional.
Depois mudou-se para o Casa Pia, mas acabou por só ficar alguns meses no emblema de Pina Manique. Como correu essa aventura?
Foi uma aventura curta, mas boa. Toda a gente no Casa Pia me tratou extremamente bem apesar do pouco tempo que lá estive. O Real SC na altura fez me uma proposta muito aliciante e eu não podia recusar.
Em 2016-17 viveu talvez o ponto alto na carreira ao conquistar o título do Campeonato de Portugal e contribuir para a subida do Real SC à II Liga. Que recordações dessa época e dos festejos no final?
Quando falei na proposta aliciante que o Real SC me fez, estava precisamente a falar no objetivo que tinham de subir à II Liga. Essa preparação começou na época anterior, que foi quando eu assinei contrato. Foi algo único e sem dúvida o ponto alto da minha carreira. Festejámos até não poder mais e são momentos que vão ficar guardados para sempre.
Na temporada seguinte chegou a estrear-se na II Liga. O que sentiu quando conseguiu jogar numa liga profissional?
Ter-me estreado num campeonato profissional foi o realizar do sonho de criança. Aliás, ser jogador profissional de futebol era o meu grande sonho e foi no Real SC que atingi esse sonho. Ou seja, foi o realizar de dois sonhos num só.
No Real SC foi companheiro de equipa de Carlos Vinícius, que rapidamente se destacou e foi contratado pelo Nápoles. Como era a sua relação com ele e o que achava deste avançado brasileiro como pessoa e como futebolista? O que sentiu quando viu um antigo companheiro de equipa seu sagrar-se melhor marcador da I Liga e estrear-se na Premier League?
A minha relação com o Vinícius foi e é extremamente boa. Ainda hoje mantemos contacto. Ele é um jogador super humilde e estávamos sempre na brincadeira, visto que somos ambos muito brincalhões. Foi um orgulho ver o que ele alcançou e o que continua a alcançar. Acho que todo o sucesso que está a ter é fruto do seu trabalho e justamente merecido.
Entretanto voltou ao Campeonato de Portugal para representar o Marinhense ao longo de ano e meio. O que achou do clube da Marinha Grande e que balanço faz do tempo que passou nesse emblema do distrito de Leiria?
Foi uma experiência muito boa. Toda a gente no clube e na cidade me recebeu bem. Prova disso é que, ainda hoje, sempre que posso, vou à Marinha Grande para visitar os amigos que lá fiz. Uma autêntica família que ali ganhei.
No Marinhense foi companheiro de equipa de um antigo jogador de FC Porto, União de Leiria e Vitória de Guimarães, o central João Paulo, que na altura já jogava como ponta de lança. Como era a vossa relação, que atributos o levaram para o eixo do ataque e o que acha que o leva a continuar a jogar futebol aos 40 anos num clube dos distritais da AF Beja, o Castrense?
Sim, joguei com o João Paulo e foi outro jogador que tive um enorme prazer em conhecer e partilhar balneário
Nesse ano ele jogou tanto a ponta de lança como a central, fazia muito bem as duas posições. Na defesa ele passava experiência, tranquilidade e liderança para todos os jogadores. Por outro lado, no ataque era a sua finalização fria e o saber bem como se posicionavam as defesas adversárias na grande área que fazia com que ele fizesse muitos golos.
O facto de ainda hoje jogar justifica-se com o facto de ele se cuidar muito bem e caprichar no que toca à parte física. E claro, a grande força de vontade que ele tem a nível psicológico é algo fundamental.
Entre 2019 e 2021 representou o FC Eindhoven na II Liga Holandesa. Como surgiu a oportunidade de ir para os Países Baixos?
Quem me abriu a porta de ir para o FC Eindhoven foi o meu atual agente, Adilson dos Santos, que tem a empresa Adex Management. Mal me falou nesta oportunidade, nem hesitei.
Como correu essa aventura e o que achou do futebol holandês? Quais são as principais diferenças entre o futebol português e o holandês?
No geral, foi uma boa experiência, visto que me tornei muito mais jogador dentro de campo e muito mais maduro fora dele. Penso que a maior diferença do futebol holandês para o futebol português é que na Holanda há muitos golos. Mas isso deve-se também ao facto que em Portugal as equipas são muito melhor preparadas no aspeto defensivo.
Os Países Baixos são uma das nações que mais talentos de qualidade produz. Há algum jovem jogador ainda a atuar no país cuja contratação recomendaria aos principais clubes portugueses?
Um dos jogadores que para mim terá um grande futuro lá é o Kaj de Rooij, que atualmente está no NAC Breda. Jogou comigo no FC Eindhoven na minha primeira época lá. É sem dúvida um jogador fora de série e tenho a certeza irá atingir os grandes palcos europeus. Fiquem atentos.
Tem acompanhado o futebol angolano? Que opinião tem e quais são os atletas angolanos que mais admira? Gostava de experimentar o Girabola?
Acompanho o futebol angolano desde sempre por causa das minhas raízes.
Claro que um dia se houver oportunidade, olharei sempre com bons olhos para a possibilidade de jogar no Girabola. Acho que seria um grande orgulho para a minha família.
Apesar de achar que o futebol angolano ainda tem muito para evoluir, acho que está num bom caminho e cada vez mais se veem jogadores de enorme qualidade a aparecer nos clubes angolanos. Vê-se que é um trabalho que já vem de alguns anos e que certamente irá continuar.
Romilson Teixeira (https://davidjosepereira.blogspot.com)