João Laia, de 47 anos, é treinador do CD Alcains há dois anos e meio e este ano, 2017/2018, levou o clube ao título distrital e consequente subida ao Campeonato de Portugal. Enquanto jogador passou igualmente pelo Alcains, em 1993/1994, e alcançou também a subida de divisão.
O técnico, nascido em Angola, mostrou-se muito satisfeito com feito alcançado e pela época que os seus jogadores realizaram.
“O balanço é ótimo. Fizemos uma época muito boa, até ao dia em que fomos campeões tínhamos 19 jogos e 18 vitórias, portanto é uma percentagem elevadíssima. A equipa fez um campeonato muito bom e ultrapassámos os 90% de aproveitamento. Só posso estar orgulhoso do trabalho que fizemos, os jogadores trabalharam muito bem, foram uma equipa unida e solidária uns com os outros. Apesar das várias lesões graves, conseguimos fazer das fraquezas forças e a equipa trabalhou muito. O objetivo principal foi atingido e portanto só podemos estar satisfeitos”, começou por afimar, explicando que este título tem um sabor especial.
“Teve um sabor especial. Lembro-me do jogo com o Idanhense – que tivemos um jogador expulso na primeira parte – e conseguimos ganhar e havia pessoas do Idanhense que diziam «parabéns, ganharam, mas vocês não têm hipóteses que quem vai ganhar é o V. Sernache». Mostrámos que não foi assim, tivemos um aproveitamento pontual muito grande e depois, quando chegou o jogo decisivo com o V. Sernache, soubemos ser humildes e reconhecer que o adversário, fisicamente, está melhor”, realçou.
Os meses de janeiro e fevereiro foram complicados para equipa, muito por culpa das lesões graves que afetaram o plantel, mas nem nessa altura João Laia duvidou que seria possível chegar ao título, recordando que a sua equipa fez “jogos muito bons e com muita qualidade”.
“Até dizia aos jogadores que, a jogar assim, não havia nenhuma equipa no Distrital que nos conseguisse tirar pontos. Mas a seguir começaram a vir as lesões, como o caso do Fábio Brites (novembro), do Caio (dezembro) e do Cordeiro (janeiro). Essas mazelas notaram-se na intensidade do treino, porque uma coisa é treinar com 17-18 jogadores, outra coisa é treinar com 12-13. A intensidade baixou e, nos meses de janeiro e fevereiro, a equipa abanou um bocado. Mas momentos menos bons há todos os anos, ninguém consegue fazer uma época inteira a um ritmo muito alto”, disse.
Esta temporada, o Alcains somou 18 vitórias e perdeu apenas por duas ocasiões, tendo o melhor ataque do Campeonato Distrital e regressando, nove anos depois, ao Campeonato de Portugal. O título e a subida de divisão foi, desde o início, o objetivo principal.
“Já o ano passado tínhamos essa meta, não conseguimos, e este ano o objetivo era o mesmo. Sabíamos que ia ser muito mais difícil que a época passada e, por isso mesmo, o grau de satisfação também aumenta, porque sabíamos que tínhamos o V. Sernache, que desceu o ano passado, e este ano, os jogadores eram todos profissionais. Apesar disso, tivemos muitas vitórias, várias até por goleada, e isso demonstra que a equipa tem qualidade”, abordando também a final da Taça de Honra perdida para o rival de Cernache do Bonjardim.
“Claro que também queríamos vencer a Taça, tentámos, mas não conseguimos. Ninguém trabalha uma época inteira para chegar à final e não querer vencer. Quisemos ganhar, sabíamos que do outro lado estava uma equipa muito forte e com o orgulho ferido por não ter sido campeã, e acho que foi um jogo muito equilibrado e acabou por pender para o lado deles nas grandes penalidades”, analisou.
O treinador, desafiado a escolher o melhor e o pior momento da temporada, escolheu a vitória frente ao V. Sernache, em casa, como o mais positivo e a vitória muito difícil, em Vila Velha de Ródão, como o mais negativo.
“No final do jogo frente ao V. Sernache sentimos que o Campeonato já não nos ia fugir. Aumentámos a vantagem para quatro pontos, ainda tínhamos dois jogos difíceis, mas sentimos que, com a força que tínhamos, íamos ser campeões. O pior momento talvez o jogo em Vila Velha de Ródão que, dentro do pior, acabou por ser um dos momentos bons. Acabámos por ganhar (3×4) nos descontos, mas a equipa apanhou um susto grande e serviu de alerta para os jogadores”, afincou.
As críticas do adversário e nova temporada
António Joaquim, treinador e presidente do Vitória de Sernache, criticou a Associação de Futebol de Castelo Branco, passando a mensagem que o Alcains não mereceu o título. João Laia ouviu as críticas do adversário e considera-as “uma desculpa” para o fracasso no Campeonato.
“Considero que isso são desculpas, deve custar-lhe muito ter feito um investimento tão grande, com uma equipa profissional, e não ter conseguido ganhar e depois vem com essas desculpas. A nós, CD Alcains, não nos assenta de maneira nenhuma. Fomos uma equipa que trabalhou e lutou e uma equipa com muita qualidade”, esclareceu.
O técnico do conjunto do concelho albicastrense confirmou que vai manter-se no clube na próxima temporada e que o objetivo é manter a espinha dorsal da equipa e atingir, o mais depressa possível, a manutenção.
“Sabemos que é um campeonato muito mais exigente e temos de estar preparados para isso. Vamos ter de fazer um investimento muito forte, porque há uma grande diferença entre os dois Campeonatos. Vamos tentar fazer uma equipa competitiva para assegurar o mais cedo possível a manutenção. Agora sabemos que o investimento tem de ser outro. A ideia é manter a espinha dorsal do plantel, manter os jogadores que foram campeões, mas depois temos de ir buscar seis, sete jogadores que venham mesmo para ser mais-valias para completar e tornar esta equipa mais forte. Temos de ter jogadores com mais experiência no Campeonato Nacional e venham acrescentar”, concluiu.
Em 2018/21019, o distrito de Castelo Branco vai continuar a contar com quatro equipas no Campeonato de Portugal: Benfica e Castelo Branco, Sertanense, Associação Recreativa e Cultural de Oleiros e Clube Desportivo de Alcains.
Jornal Povo da Beira