Foi a figura da sexta jornada do Campeonato de Portugal, às custas do único ‘hattrick’ da ronda, uma espécie de grito de libertação após um início de época em que a bola parecia custar a entrar. Gilson Varela, cabo-verdiano que chegou a Portugal para estudar Contabilidade, apaixonou-se pelo Sp. Espinho antes de sequer imaginar que, também ele, vestiria a camisola dos Tigres, e confessa que ainda alimenta o sonho de, um dia, chegar à seleção de Cabo Verde.
Fez-se futebolista na Escola de Preparação Integral de Futebol, “de onde saíram jogadores como o Babanco (Feirense), o Kuca (Boavista), o Zé Luís (Spartak Moscovo), o Ryan Mendes (Kayserispor) ou o Garry Rodrigues (Galatasaray)”, mas quando rumou a Portugal, fê-lo para estudar. “Vim para um curso técnico em Contabilidade, em Valença do Minho”, e também foi ali, no Vianense, então na já extinta 3.ª Divisão Nacional, que se deu a conhecer ao futebol português.
“Quando terminei o curso, não conseguia continuar a conciliar a escola com o futebol, por motivos financeiros. Como tinha jeito para a bola, o meu pai disse-me para me focar no futebol”, e Gilson assim o fez. Correu o país em busca de afirmação, chegou à 2.ª Liga com o Oriental, mas cada época acabava por se tornar numa autêntica montanha-russa. Nas últimas quatro, jogou por oito clubes, culpa “da situação financeira”. “Vivo sozinho em Portugal, dependo apenas de mim, e tenho que fazer o que é melhor para mim”, explica Gilson, que sabe que, “em termos de currículo, isso acaba por ser mau para um atleta”, mas a experiência em Espinho pode mudar o cenário.
“Já falei com o mister e disse-lhe que quero ficar até ao fim e ser muito feliz cá. Também preciso de fazer uma época regular, com muitos golos e vitórias”, conta o avançado, de 27 anos, que descobriu os Tigres “numa reportagem na televisão”, e ficou “entusiasmado e identificado com tudo aquilo, porque gosto de clubes com uma massa associativa muito grande”. Até por isso, e depois de se aconselhar com João Sousa, que o orientou no Pinhalnovense na época passada, nem pensou duas vezes para aceitar o convite do Sp. Espinho, “que será, talvez, uma das melhores experiências da carreira”.
Varela demorou cinco jornadas para se estrear a marcar, mas parece ter-lhe tomado o gosto. No último domingo, fez três golos em Amarante, na vitória por 3-1 dos Tigres, que o deixaram “muito feliz”. “Os golos dão confiança a um ponta de lança”, admite, mas, “independentemente de quem marque, estamos todos focados para tentar ganhar os próximos jogos”. “Entramos em campo sempre com o esse objetivo, com raça”, salienta.
Por cumprir continua o sonho de representar a seleção de Cabo Verde. “Quando estive em grande, na 2.ª Liga, tive várias observações, mas nunca recebi uma chamada, nem para fazer um jogo-treino. É algo que queria fazer”, admite, prometendo “continuar a trabalhar para poder ser chamado”.
AFA TV