O Sindicato de Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF) denunciou, ontem, «mais um caso desumano no futebol português»: Caio Silva Aviles, extremo brasileiro que representava a Naval, do Campeonato Nacional de Seniores, alegou ter sido abandonado, quer pelo seu empresário, quer pelo clube da Figueira da Foz.
«O clube deu-me até quinta-feira passada para desocupar o apartamento onde estava e entrei em contacto com o sindicato, pois não tinha como voltar ao Brasil. Vim para Portugal há quatro meses, com a promessa de que vinha para a Europa, para um clube da 2.ª Divisão B, onde ficaria até janeiro. Nessa altura, tive de pedir para a minha mãe fazer um empréstimo de 3200 euros, para o pagamento do certificado», explicou o jovem atleta, de 22 anos, na sede do SJPF, em Lisboa, admitindo não ter estranhado o pedido desse valor por parte do empresário Sérgio Neves, com quem travou conhecimento no Brasil, pois fora-lhe prometido que, após seis meses na Naval, «em janeiro, estaria a jogar num clube da 2.ª Liga».
«Treinei sempre na Naval. Não cheguei a jogar porque logo quando cheguei, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) questionou a minha legalidade, e deu-me vinte dias para regularizar a minha situação. O empresário tentou regularizar-me pedindo a um cidadão português para se responsabilizar por mim durante três meses, mas isso não foi suficiente para poder jogar», acrescentou o extremo, que no Brasil representava o Atlético Paranaense.
O clube, no entanto, não concedeu um contrato de trabalho a Caio, uma vez que, nas palavras do brasileiro, «não podia pagar os descontos de trabalhador», acabando por deixar a situação num impasse, o que terá levado a Direção a pedir ao jogador que deixasse o apartamento na passada quinta-feira.
«O tempo foi passando, a situação não ficou resolvida. O clube chegou à conclusão que não me queria mais e acabou por me abandonar. Não tinha para onde ir, não conheço ninguém aqui», afirmou Caio, que ainda tentou contactar Sérgio Neves, mas o empresário não se mostrou solidário, mandando o brasileiro «ir vender pizzas». O extremo regressa hoje ao Brasil, subsidiado pelo Sindicato de Jogadores.
Presidente do Sindicato de Jogadores solidário
O presidente do Sindicato de Jogadores, Joaquim Evangelista, mostrou-se solidário com a situação de Caio e criticou a postura dos empresários neste tipo de transferências, que, para o responsável do sindicato, «só querem ter lucro», condenando também a Naval, que já teve mais casos de incumprimentos para com os seus jogadores.
«Falei com a presidente da Naval que me respondeu da seguinte forma: ‘Mas qual é o problema?’. Obviamente que a responsabilidade primária é do empresário, por ter criado a expectativa no jogador de um futuro melhor que não correspondia à realidade, mas também dos dirigentes desportivos, que permitem que estes empresários façam este tipo de negócios», afirmou Joaquim Evangelista.
«O facto de estarmos no desporto não nos obriga a ver apenas o lado desportivo, mas também o lado humano, social. E infelizmente os clubes já não desempenham a sua função social» lamentou.
A BOLA