Depois de quase 25 anos como jogador, Pedro Solá assumiu o comando técnico do GRAP em Novembro de 2011, levando o clube a um patamar que o coloca como uns dos mais fortes candidatos ao título na Divisão de Honra Distrital. Aos 36 anos, o técnico ambiciona chegar ao topo no futebol português
Diário de Leiria (DL): No início da época disse que o GRAP não era candidato ao título na Divisão de Honra Distrital. Após várias jornadas nos primeiros lugares já se assume como candidato?
Pedro Solá (PS): O GRAP é candidato a ganhar em qualquer campo. Entra sempre com a ambição de ganhar todos os jogos. Foi assim desde o primeiro dia e assim será enquanto for treinador. Não contemplo entrar em campo para defender ou jogar para o empate. Houve equipas que investiram para subir de divisão, nós investimos para ganhar. Trabalhando bem, diferente, e sendo psicologicamente fortes.
DL: A equipa já não vence há um mês, tendo sido ultrapassada pelo Marrazes na última jornada. A que se deve esta série de resultados negativos?
PS: O GRAP não ganha hà três jogos, empatando dois e perdendo um. No futebol há três resultados possíveis, e posso dizer que o GRAP entrou e trabalhou sempre da mesma forma como nos jogos anteriores. Nesses jogos em que não ganhámos, criámos mais situações de golo, tivemos mais posse de bola e tudo fizemos para ganhar os jogos já que a atitude dos jogadores foi a melhor, apesar de ter sido condicionada pelas contingências do próprio jogo. Os nossos adversários estão sempre muito motivados porque estavam a jogar contra o líder.
DL: O GRAP tem tido jogos em que os seus jogadores têm sido sistematicamente expulsos. Considera a sua equipa indisciplinada? Como explica, por exemplo, em dois jogos seguidos, ter acabado esses jogos com apenas nove jogadores?
PS: O GRAP é uma equipa de jogadores fortes psicologicamente e com personalidades fortes. Indisciplinados? Isso não. A arbitragem é um assunto que faz parte do jogo, e eles sabem que é um trabalho que não é o nosso. Foram quatro expulsos porque o árbitro mostrou o cartão vermelho. Agora tenho a certeza que os quatro jogadores se deitaram de consciência tranquila.
DL: Acredita que o GRAP tem sido prejudicado pelas arbitragens?
PS: Não falo de arbitragens. Tento fazer o meu trabalho o melhor possível, e peço aos jogadores a mesma coisa. Sabemos que, se trabalharmos bem todos os jogos, poderemos ultrapassar todos os obstáculos, mesmo quando nos sentimos injustiçados.
DL: Quais as equipas que são as principais candidatas ao primeiro lugar na Honra?
PS: As que se reforçaram bem no defeso e que querem subir de divisão, como é o caso do Portomosense e do Marrazes. O Guiense e a Pelariga também poderão ter uma palavra a dizer na luta pelo primeiro lugar.
DL: Muita gente mostrou-se surpreendida com a qualidade exibicional da sua equipa em vários jogos na presente época. A que se deve essa qualidade?
PS: Acima de tudo treino. Depois vem a crença e o acreditar que a organização e concentração é meio caminho para se jogar bem. E a equipa saber que todos têm um potencial grande, bastando acreditar neles próprios. Quero, acima de tudo, que os jogadores sejam felizes e que a responsabilidade e compromisso que assumimos seja fazer o que se gosta, e saber que o facto de se jogar bem é motivante e que, assim, teremos mais probabilidades de ganhar.
DL: O próximo jogo do GRAP é contra o Pataiense, no domingo. O que se pode esperar dessa partida?
PS: Vai ser mais um jogo, onde iremos entrar com a mesma ambição e responsabilidade. Espero um jogo contra uma equipa organizada e que joga bom futebol, tendo boas individualidades e com uma grande estatura física, à imagem da equipa da Pelariga. Tem um treinador com nome, títulos, e acima de tudo experiência. Espero um bom jogo entre duas equipas a jogar olhos nos olhos. O detalhe irá resolver este jogo, mas o Pataiense jogará aquilo que o GRAP deixar jogar.
DL: Até ao final da primeira volta, para além do Pataiense, o GRAP vai defrontar o Guiense e o Marrazes, algumas das equipas mais fortes da Divisão de Honra. Considera estes jogos decisivos?
PS: Depende do que considere decisivo. Traçámos objectivos internos no seio do grupo e que passam por ganhar sempre o próximo jogo dentro dos nossos princípios e alheios a tudo e todos. Agora, ainda faltam 18 jogos, mais de metade do campeonato. Acredito que poderá ser decisivo para outros clubes que vivem na ‘obsessão’ de serem primeiros. Nós não temos essa obsessão. Só queremos ganhar o próximo jogo e será sempre esse o nosso objectivo.
DL: Deixou de jogar futebol para assumir a posição de treinador a meio da última época. Como foi essa transição? Ainda tem vontade de saltar para o campo e ajudar a equipa?
PS: A transição foi difícil. Não estava preparado para deixar de jogar, e tinha medo de não ser capaz de treinar os meus colegas. Era suposto ser treinador durante um ou dois jogos até a direcção encontrar um substituto, mas depois houve a proposta de ficar até ao fim. Gostei da experiência e agora respiro, transpiro, como e bebo futebol. Não tenho vontade de saltar para dentro de campo pois acho que tenho mais jeito nesta função de treinador do que dentro de campo, e, para mais, todos os jogadores sabem como penso e o que quero, e isso é como se estivesse lá dentro.
DL: Que objectivos tem como treinador para a presente época e para o futuro?
PS: Ganhar, ganhar e ganhar. Quero ser reconhecido pelo meu trabalho e que falem bem das equipas que oriento. Quero que os jogadores gostem de trabalhar comigo e acreditem em mim, e que, quando falarem de mim, o façam com orgulho. Para o futuro, obviamente, quero mais, muito mais. Quero chegar o mais longe possível, e se chegar ao topo quero continuar a ganhar. Para mim não basta chegar ao topo, é preciso ganhar onde quer que se esteja.
DL: Falou-se nos ‘bastidores’ que o Pedro teria sido contactado por elementos da União de Leiria no sentido de saber a sua disponibilidade para ir treinar a União de Leiria SAD. Confirma que houve contactos? Se sim, por parte de quem?
PS: Se a União de Leiria não assume o que fez, não vou ser eu a assumi-lo. Gosto de transparência e que as coisas sejam contadas como são e quando nós, agentes do futebol, condenamos as notícias e comentários falsos e especulativos, temos de assumir as nossas culpas porque, muitas vezes, as pessoas não mentem, mas fogem à realidade. A única coisa que posso dizer é que o Carlos Martins [presidente do GRAP] esteve a par de toda situação.
DL: Estaria tentado em aceitar o desafio de assumir uma equipa da II Divisão Nacional?
PS: É aliciante para quem tem ambição aceitar um desafio mais alto, particularmente numa divisão mais competitiva, com mais horas treino, mais disponibilidade temporal e uma outra organização. Para mim, trabalhar na II ou na I Divisão tem a mesma responsabilidade de estar no GRAP. O clube já é referência em termos de organização directiva e, por isso, obriga a um trabalho “profissional” dos seus técnicos. Iria manter a minha forma ‘diferente’ de encarar o treino e manter a mesma ambição enquanto treinador, pois quem ganha nas distritais também ganha nos nacionais.
DL: Vai tentar reforçar a equipa nas próximas semanas?
PS: Sinceramente, estou muito satisfeito com plantel que tenho. Tenho homens humildes, corajosos, crentes e com uma personalidade fortíssima. Gostam de trabalhar comigo e eu com eles. Precisava de um ponta de lança, pois só temos um [Ferraz], mas se não encontrarmos um com os requisitos para pertencer a este grupo, também não vou deixar de dormir por causa disso.
DL: Também ao nível da formação tem somado sucessos…
PS: Estou com um grupo de jogadores no GRAP, que agora são benjamins, há quatro anos. No ano passado tivemos um percurso de 35 jogos e 35 vitórias. Todos os torneios foram ganhos e ficámos nos quartos-de-final na Liga Zon Kids no Estádio do Dragão. Com vitórias contra alguns dos melhores clubes do país, como aconteceu no Torneio de Porto de Mós em que vencemos o Sp. Braga e, na final, o Sporting Clube de Portugal. É um trabalho que já tem quatro anos e que muito me satisfaz aperceber-me da evolução destes miúdos tanto a nível desportivo, como na sua formação socioeducativa.
José Roque – Diário de Leiria