Em entrevista à Tribuna Expresso, o beirão César Brito de 55 anos, recordou este sábado com orgulho os dois golos que marcou ao FC Porto e que deram o título ao SL Benfica, em 1990-91, e a passagem pelo Sp. Covilhã. Na primeira pessoa, o ex-jogador fala ainda da sua terra, aldeia do Barco no concelho da Covilhã, para onde regressou assim que pendurou as chuteiras há vinte anos.
O último jogo (meia-hora em campo e lesionou-se) que disputou aconteceu na temporada 1999-2000, pelo Sporting da Covilhã, na II Liga (reforço de inverno, vindo do Mérida de Espanha), na Figueira da Foz, frente à Naval 1º de Maio.
” Ainda tentei jogar no SC Covilhã, fiz um jogo pelo SC Covilhã ali na Naval, apanhámos uma cabazada 4-1, entrei a meio da 2ª parte, lesionei-me, tive logo uma rutura muscular e falei com o presidente: “Ó presidente, eu não quero, não quero andar a arrastar-me mais, eu não posso. Compreenderam e acabei já com 33 ou 34 anos”. Afirmou César Brito.
Recorde-se que nessa altura, o líder dos serranos era Brito Rocha, enquanto Henrique Nunes, treinava a equipa.
O técnico ex- CD Feirense, tinha substituído no cargo, o malogrado António Jesus, devido aos maus resultados.o clube desceu de divisão.
César Brito, é oriundo de uma família de oito irmãos (sete deles jogaram no Sport Clube do Barco, clube da terra, e que chegou a militar na extinta 3ª divisão nacional, defrontou em 1987, inclusivamente, o Vitória Sport Clube de Guimarães de António Jesus, na Taça de Portugal, e participou durante várias temporadas nos campeonatos distritais da AFCB), e “por amor à camisola, não havia dinheiros, éramos amadores, não havia nada.” diz.
César Brito começou a jogar futebol aos 12 anos nos iniciados da AD Fundão.”Estive lá um ano e depois fiz juvenil no Sport Clube de Barco, na minha terra, e não estive nos juniores. Comecei a jogar seniores com 16, perto de 17 anos, foi preciso uma autorização dos meus pais para poder representar o Barco no distrital e foi assim que tudo começou. Depois fiz um ano no distrital e depois subimos à III divisão, fiz um ano na III divisão, comecei a fazer uns golos, a fazer umas coisas engraçadas e depois da III divisão é que fui para o Sporting da Covilhã, com 18 anos, clube onde comecei a ganhar dinheiro pela primeira vez. No Sporting da Covilhã fui ganhar 35 contos [175€]. Eu mais o meu irmão Inácio e o Quim Brito. O Inácio Brito e o Quim Brito, eram os meus irmãos”. Refere ao jornal.
O ex-avançado internacional português, deixa o clube serrano na temporada 1984-85, na 1ª divisão nacional, e nas meias-finais da Taça de Portugal, e vai para o SL Benfica, em 1985-86. Um sonho tornado realidade.
” Não havia empresários. Eu tive dois anos muito bons no Covilhã. No primeiro não subimos, mas no segundo subimos à I Divisão. Tínhamos uma equipa muita boa, com o Rui Barros, emprestado do FC Porto, e conseguimos subir. Eu fui o melhor marcador nesse ano, fiz uns golinhos, umas coisas boas, e pronto, depois surgiu o Benfica. Lembro-me que o presidente do Sporting Clube da Covilhã, o senhor Álvaro Ramos, me disse: “Ó César, queres ir para o Benfica?”; “Para o Benfica?! Ó presidente, está a brincar…?” “Não, a sério, isto é sério”. Bem, aquilo parecia… um sonho, pois quando se está numa II Divisão, a gente nunca pensa num grande, a gente sonha sempre em jogar na I Divisão, mas num clube modesto, mais pequeno. Mas a verdade é que surge o Benfica. Fui com o presidente do Sporting Clube da Covilhã, fomos ao hotel Altis conversar com o senhor Fernando Martins, na altura o presidente do Benfica, e com o Júlio Borges, que era o braço direito dele. Conversámos, acertámos e foi assim”. Acrescenta.
No clube da Luz, começa a treinar às ordens de John Mortimore, vence uma Taça de Portugal e é campeão nacional. Dois anos depois, é emprestado ao Portimonense Sporting Clube de Manuel Cajuda / José Torres, e é chamado pela primeira vez à Selecção Nacional.
“Depois de ter tido o acidente, onde perdi a minha filha, fiquei meia época parado, a outra voltei ao Portimonense porque o Toni disse-me para ir fazer a recuperação. É engraçado que essa meia época corre-me tão bem no Portimonense que vou à selecção nacional, a jogar pelo Portimonense, e sou chamado, e recordo-me tão bem, porque o Rui Águas lesionou-se, era Juca o selecionador e chamou-me. Foi também uma coisa brutal, ir à selecção pela primeira vez. É uma sensação única mesmo. Na selecção fiz dois golos, um à Holanda num jogo amigável e outro na Antas, à Finlândia, em 1991, na qualificação para o Europeu.” Brito regressa depois ao Benfica, já com Erickson como técnico dos encarnados.
É com o técnico sueco que na época 1990/91, César Brito marca dois golos ao FC Porto, no antigo Estádio das Antas, e sagra-se campeão nacional.”Quando entrámos no balneário era um cheiro insuportável. Há quem diga que era bagaço, outros que era sulfato. Era um ardor nos olhos. Aquilo foi uma coisa horrível, abrimos uns chuveiros, mas era impossível estar ali. E então tivemos de nos ir equipar nos corredores que davam acesso aos balneários. E a revolta foi tanta que nos deu uma força extra e o Benfica fez um jogo espetacular. Recordo o Rui Águas, que fez um jogão, eu de vez em quando ainda vejo esse resumo. Toda a equipa com um vontade enorme, provocado pelo que aconteceu e não só, porque queríamos ser campeões. Recordo que comecei a aquecer muito cedo, ainda no início da segunda parte, estive a aquecer muito tempo, levei com muitas moedas de 50 escudos, aquelas moedas grandes. Da bancada mandavam-me com as moedas para a zona onde estava a fazer o aquecimento e ainda apanhei algumas, punha no bolso do fato de treino. Ainda juntei umas quantas moedas. Depois entrei aqueles 10 minutos e fui feliz”. Conta.
César Brito, depois da glória (recorde-se que ainda foi campeão nacional pelo Benfica em 1993-94, época dos 6-3 em Alvalade, e em 1986-87, mesmo perdendo por 7-1 frente ao Sporting – “o meu maior adversário que encontrei na minha carreira de jogador”, diz), lesionou-se, começou a “perder” espaço na equipa, que, entretanto, via chegar, João Vieira Pinto, Paulo Futre, para além, de continuarem no conjunto lisboeta, Rui Águas e Rui Costa, por exemplo, e saiu para o Belenenses em 1994, já com 30 anos.
O ex-jogador beirão, passou ainda por Espanha, onde esteve dois anos em Salamanca com Pauleta, e subiram à 1ª divisão.César Brito representou também no país vizinho, o Mérida.
O antigo avançado, regressa a Portugal em 1999-2000, para representar o Sp. Covilhã, mas não foi feliz.
O ex-atleta natural do Barco, esteve ainda na final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, em 1990, onde perdeu em Viena, frente ao AC Milan.Como futebolista, deixa ainda uma pequena história, que se passou com ele, enquanto jogador do clube da Luz.
“No Benfica, depois dos treinos, saíamos juntos muitas vezes, não era só partilhar o balneário, éramos amigos, uma família, e um dia fomos comer ao Barbas umas caldeiradas e uns peixes. E bebemos demais. Só que tínhamos treino à tarde. Era o Toni o treinador. Bebemos demais e à tarde fomos para o treino e no aquecimento ainda disfarçámos porque era correr à volta do campo. Mas depois quando foram exercícios com bola começaram alguns a falhar os passes, a não acertar na bola, a cambalear, e o Toni, como esperto que era, apitou e mandou todos para o balneário. Foi caso único, nunca mais aconteceu, e ele compreendeu”.
Fora das quatro linhas, César Brito tornou-se entretanto caçador, actividade que pratica, em simultâneo, com a de empresário.” Voltei para a minha terra. Tenho algumas coisinhas. Já tive alguns negócios. Tive uma loja de desporto, já tive um restaurante, “O Brito”, no Barco, isto é uma aldeia pequenina e não funcionou muito bem. Depois abri uma marisqueira também lá no próprio restaurante, as coisas também não correram bem. E agora tenho uma discoteca, “A Cave”, que estava a trabalhar mais ou menos, abríamos aquilo ao fim de semana, mas com isto da pandemia ficou tudo parado. Tenho uma quinta aqui ao pé do Fundão, onde tenho os animais, tenho cães, sou caçador, onde costumo caçar coelhos, lebres, perdizes, pombos, e tordos. De Agosto a Fevereiro é caçar, apesar que já me está a faltar também a vista. A idade não perdoa. Mas é tudo para consumo próprio, não vendo uma peça de caça”. Conclui o ex-jogador ao jornal “Tribuna Expresso”.
Rádio Cova da Beira