Há mais de 10 anos que o Centro Cultural e Recreativo Dom Fuas (CCR Dom Fuas) integrou, no seu clube, o futsal feminino. A iniciativa não foi do clube, mas de um grupo de mulheres que se encontrava «todas as semanas» para uma partida, conta Vânia Vala, atual capitã de equipa e que fez parte desse grupo que deu o “pontapé de saída”. «Antes de formarmos o clube, há dois ou três anos que nos juntávamos por brincadeira, sobretudo pessoas amigas da terra e depois a paixão era tanta que acabou por surgir a ideia de criar uma equipa federada», acrescenta a jogadora, natural da Ribeira de Baixo. O apoio do clube foi preponderante e assim nasceu a equipa feminina do CCR Dom Fuas, que atualmente disputa a 1.ª Divisão distrital de seniores femininos.
A atual direção do clube está também ao lado da equipa. Alexandre Inácio não é presidente desde o início, mas afirma, rejeitando supremacia do futsal masculino, que «a importância de uma equipa feminina é igual à de uma equipa masculina». Internamente, o apoio dado pelo clube é também «sensivelmente o mesmo», no entanto, o dirigente lamenta que a nível de patrocínios e apoios externos não seja bem assim. Competitivamente colocam-se ainda outras questões: «É muito difícil arranjar jogadoras para ter uma equipa competitiva, porque as poucas que existem juntam-se às equipas mais fortes», admite. O presidente reforça ainda que antes «havia muito mais equipas de futsal feminino do que há hoje», o que diminui também os índices competitivos. Apesar disso, Alexandre Inácio acredita que a equipa tem tido uma «evolução muito grande» e a intenção é manter o futsal feminino ativo no clube e procurar «evoluir ainda mais».
Apesar destes fatores, a verdade é que no ano de 2019, o futebol e o futsal feminino tiveram um crescimento de 15,4% face e 2018, com um total de 10 028 inscritas na Federação Portuguesa de Futebol (FPF). Vânia Vala conta para as estatísticas da FPF há 10 anos, mas sempre «gostou muito de jogar, desde pequenita» e é, por isso, com alegria, que constata que «cada vez mais se fala de futsal feminino nas televisões, rádios e jornais». Para a jogadora o grande entrave para um, ainda maior, desenvolvimento, é a «disponibilidade das atletas». Nas mulheres a disponibilidade é menor, porque desde logo «o número de jogadoras que quer participar é muito inferior». Além disso, a atleta destaca que «o facto das mulheres engravidarem», a nível competitivo, pode ser um obstáculo. Também cada vez mais as atletas dividem o futsal com carreiras profissionais, «às vezes por turnos», ou com os estudos, destaca Vânia Vala.
Estando desde o início, a capitã conhece a evolução do clube na modalidade. «A nossa evolução tem sido muito grande. Quando iniciámos este projeto apenas duas jogadoras tinham sido federadas», conta Vânia, que acrescenta ainda que «o primeiro treinador teve um papel muito importante e conseguiu que se evoluísse bastante e todos os outros que se seguiram acrescentaram mais». Como capitã, tenta transmitir «a união de grupo», no entanto, garante, essa união existe desde o primeiro momento: «Em 10 anos é das coisas que mais nos orgulhamos, o ambiente no balneário. Ouve-se muitas vezes que entre mulheres é complicado, mas nós nunca sentimos isso. Mesmo com a entrada e saída de jogadoras, sempre fizemos questão de manter a união de grupo».
Diferenças no treino feminino e masculino
Nuno Almeida, que já foi jogador do CCR Dom Fuas, é treinador da equipa feminina há pouco tempo, mas é técnico há mais de 10 anos. Já treinou equipas femininas e masculinas, conhecendo bem as duas realidades, que para o técnico são «muito, muito diferentes». Para Nuno Almeida o facto de as jogadoras não «terem vícios em termos de jogo» é um aspeto a favor, permitindo que o treinador implemente melhor as suas ideias. As mulheres faltam «menos ao treino» e esse é também outro dos aspetos em que, em comparação com os homens, o sexo feminino fica a ganhar. Em desvantagem estão no que diz respeito «à capacidade física», ainda assim, o treinador acredita que isso pode permitir vislumbrar «uma maior evolução» nas atletas femininas.
Para Nuno Almeida, há ainda uma diferença mais gritante: o facto das mulheres serem mais emocionais. «Esse é o grande aspeto que os treinadores têm que ter cuidado. A forma como se fala para um atleta masculino não pode ser a mesma que se fala para uma atleta feminina». O treinador acredita que é necessário «explicar concretamente o porquê das coisas ao treinar mulheres, o porquê dos movimentos, dos passes». As mulheres vivem intensamente os jogos, as vitórias e derrotas, o que acaba por ser, na opinião do treinador, «bastante compensatório» por se sentir entrega total.
Desde o início da época no clube, Nuno Almeida está satisfeito e «orgulhoso» do plantel. O treinador lembra que quando chegou sentia que «o futsal praticado não estava a evoluir para o potencial que existia no clube», hoje, acredita, «as atletas quando estão em jogo sabem o porquê de determinado movimento e determinado passe».
Nuno Almeida acredita que, por vezes, os treinadores não têm a preocupação nem querem ter o trabalho de «explicar as coisas» porque nem sempre a evolução no futsal feminino é notória a curto prazo. O mesmo se passa com os adeptos e os clubes. O treinador não entende «a falta de aposta dos clubes no futsal feminino».
Ainda assim, o técnico augura um futuro risonho para a modalidade feminina. As diferenças entre o feminino e masculino, acredita, vão dissipar-se cada vez mais. «O futsal feminino tem muito potencial, as pessoas é que não podem desistir dele», insiste. O treinador reforça ainda que o trabalho que está a ser feito no CCR Dom Fuas é um «trabalho de futuro» que vai trazer cada vez mais «evolução».