Finda mais uma eliminatória da Taça de Portugal, mais um rombo nos que defendem e que protegem o monopólio dos três grandes e que o futebol português só tem sentido com a defesa dos interesses dos clubes mais fortes e mais titulados.
Ora, nada mais falso!
Depois do grito de revolta de quinze clubes da I Liga, excluindo-se os três principais contendores ao título ( o já denominado G15), a prova rainha do futebol português demonstrou que existe futebol para além das parangonas das machetes ou das estrelas mediática. Efectivamente, nas dezasseis equipas apuradas para os oitavos de final da Taça de Portugal, assistimos a uma curiosa dicotomia: oito são do escalão principal, mas igual número são de escalões secundários, sendo quatro da II Liga e outras tantas do Campeonato Nacional de Séniores.
E tal demonstra claramente que nas divisões inferiores trabalha-se bem e que essas equipas, maioritamente, compostas por produto nacional, poderão ser um viveiro de talentos para reforçar as principais equipas nacionais, sem que estas tenham a necessidade de recorrer às incertezas dos mercados internacionais.
Atentemos nos desafios em que intervieram equipas do escalão maior, que venceram, na melhor das hipóteses pela imagem mínimo, estando em maiúsculas os “tombas gigantes”:
3ª Eliminatória:
– Torcatense – Marítmo (0-1);
– Académico Viseu – Feirense (0-0 vitória para os fogaceiros no desempate pelo pontapé de grande penalidade);
– São Martinho – SC Braga (2-3);
– Olhanense – Benfica (0-1);
– Pinhalnovense – Vitória FC (1-2);
– Vila Real – Aves (0-1);
– LEIXÕES – Tondela (3-2);
– Moura – Portimonense (0-0 vitória para os algarvios no desempate pelos pontapés de grande penalidade);
– VILAVERDENSE – Boavista (1-0);
– FARENSE – Estoril (1-0);
– SANTA CLARA – Belenenses (2-1);
– ACADÉMICA – Paços de Ferreira (2-1).
4ª Eliminatória:
– Oliveirense – Marítmo (2-3);
– SANTA CLARA – Chaves (2-0).
Merecem, nesta última eliminatória, destaque os seguintes resultados, ainda que não envolvam primodivisionários:
– CALDAS – Arouca (1-1, com os caldenses a vencerem no desempate pelos pontapés de grande penalidade);
– FARENSE – Leixões (2-1);
– Vizela – VILAVERDENSE (2-2 com vitória no desempate nas grandes penalidades para os homens de Vila Verde);
Estes resultados, demonstram um facto insofismável: trabalha-se bem nos escalões inferiores portugueses. Equipas com orçamentos incomparavelmente inferiores aos da I Liga, sem a possibilidade de almejarem entrar no quadro das negociações dos direitos televisivos, mas com muito engenho e arte.
Engenho na busca das melhores soluções e arte em saber olhar para essas soluções em quadrantes que os clubes mais ricos ousam desdenhar. Lembremos o caso do Santa Clara que teve em Minhoca, um enjeitado da I Liga, um verdadeiro artista nos desafios em que Belenenses e Chaves foram abatidos. Ou o jovem Apolo, da Oliveirense, que após ter sido dispensado do Vitória SC, após o fim da sua formação, brilhou ontem ao apontar dois golos aos verde-rubro insulares.
Ou, os também antigos produtos vitorianos que dão cartas no Vilaverdense, como o guardião Pedro Freitas, o lateral Pedro Lemos, ontem autor do golo do empate da eliminatória aos 120 minutos, ou Rafael Vieira.
Ou, o Farense que aproveitou o avançado ganas, dispensado pelo Paço de Ferreira, Irobiso, que ontem foi decisivo, sendo também determinante o antigo jogador do Benfica B, Luís Zambujo.
E estes serão, apenas, alguns exemplos de escolha criteriosa por parte dos clubes de escalões inferiores. Escolhas que, atento os resultados apresentados, foram acertadas e que permitem pensar, que ao invés dos milhões gastos, e tantas vezes perdidos, as boas soluções são económicas e encontram-se ao virar da esquina….
Vasco André Rodrigues