Francisco Pires ou Chiquinho, como o mundo do futebol o conhece, tem 29 anos e divide o seu tempo entre as aulas de Educação Física, os treinos dos infantis do Desportivo de Castelo Branco e a equipa de seniores do Águias do Moradal. E foi precisamente no clube do Estreito que o jovem técnico se destacou: sagrou-se campeão distrital sem qualquer derrota, voltando a colocar a equipa no Campeonato Portugal Prio. Um trajeto ascendente do antigo jogador que, antes de chegar ao Águias do Moradal, conta com passagens pela AD Penamacorense, os juniores do Desportivo de Castelo Branco, a Associação de Futebol de Castelo Branco e a Atalaia do Campo – a primeira experiência no futebol sénior.
Povo da Beira (PB) – Ainda é muito novo e foi o seu ano de estreia no Águias do Moradal. Como se define como treinador?
Francisco Pires (FP) – Aquilo que tento fazer é tentar perceber o clube que nos vai acolher, que contexto é que envolve esse clube, para que nós nos consigamos adaptar àquilo que é a realidade e os valores. Aquilo penso sempre é que o treinador tem de se adaptar aos valores das pessoas que lideram e que fizeram parte da história do clube, para que depois as coisas sejam minimamente coerentes. Relativamente ao que posso gostar ou não nas equipas também está, sobretudo, relacionado com os valores, porque em termos de jogo e de estética, as coisas são tão subjetivas que há tantas formas de abordar o jogo com sucesso que não faz sentido, na minha forma de estar, optar ou reduzir-me exclusivamente a uma maneira de estar. A minha principal preocupação é os valores e nesse aspeto nós gostamos de ver, nesta modalidade, equipas que sejam muito humildes, que trabalhem muito, sejam muito ambiciosas, tenham espírito de sacrifício e que demonstrem capacidade de se unir e de solidariedade.
PB – Este ano conseguiu a subida ao Campeonato Portugal Prio (CPP). Ser campeão era o grande objetivo no início da época?
FP – Quando nos abordaram – e a vontade do clube era também dar um rumo diferente aquilo que tinham sido os últimos anos – a equipa tinha acabado de descer do CPP e estava a já começar a preparar a nova época atrasada, relativamente aos outros clubes. Sabíamos que ia ser um ano difícil e o objetivo principal não passava, na primeira época, por ser campeão distrital. Ainda assim, tínhamos a perfeita que consciência que o clube, pelo seu passado recente, tinha de ter ambição e com o objetivo de apostar numa subida de divisão a dois-três anos. Não fazia sentido que nós abordássemos este primeiro ano sem essa intenção, pelo menos internamente. Foi isso que tentámos fazer, embora sabendo que na primeira época poderia não acontecer.
PB – Irá continuar no clube na próxima época?
FP –Sim, é isso que temos projetado. Já estamos a preparar a nova temporada para que as coisas nos possam correr bem, sabendo que vai ser bastante difícil. Temos de mudar muitas condições e alterar algumas dinâmicas e processos no clube para que as coisas possam correr da forma mais correta e adequada. Queremos dar continuidade a este projeto, num nível diferente.
PB – Neste nível, em que os jogadores mudam muito facilmente de equipa, é muito importante mantê-los no clube mais que um ano…
FP – Sim, para quem vive do processo o facto de ter alguns jogadores que já o vivenciaram e já têm alguma experiência é importante porque até nos ajuda com o restante grupo. Temos, no entanto, aqui um conjunto que fatores que leva a que não consigamos manter grande parte dos jogadores de um ano para o outro. E é muito diferente abordar um Campeonato Distrital – em que se pode trabalhar de uma forma diferente – e disputar o Campeonato Nacional, que já tem equipas que são totalmente profissionais. Se nós não temos noção que vamos competir com estruturas totalmente profissionais e, se continuarmos na lógica que utilizámos no Distrital, provavelmente o resultado não é nada satisfatório.
PB – Deduzo dessas palavras que este ano o grande objetivo é a manutenção?
FP – Sim, nós queremos construir uma equipa muito competitiva para atingir a manutenção o mais rápido possível. Depois temos a ambição de tentar o melhor que conseguirmos para o clube. O grande objetivo de todas as equipas à partida, tirando uma outra que se assumam como candidatas à subida, passará por garantir a manutenção, até porque é um campeonato muito exigente em que das 16 equipas descem seis. Queremos assegurar condições para fazer esse trabalho.
PB – Em relação à formação do plantel, a aposta vai recair sobre jovens da região?
FP – A nossa forma de pensar leva-nos a crer que o mais rentável é que nos possamos assumir como o clube da região que aposta, efetivamente, nas pessoas que residem ou que são oriundas daqui – jovens ou menos jovens. Queremos ser o clube que representa a nossa região, efetivamente. O nosso objetivo é criar um grupo desse género: o núcleo tenha este perfil, para depois podermos complementar com alguns jogadores que tenham características que não consigamos encontrar aqui e que venham acrescentar qualidade.
PB – Este ano, o Concelho de Oleiros vai ter, pela primeira vez, duas equipas no CPP. Que efeitos acha que isso vai trazer ao Concelho e às equipas? Haverá mais rivalidade?
FP – Eu não consigo olhar esta questão de uma forma negativa, é um aspeto bem positivo para o Concelho e para as duas equipas. A rivalidade existe sempre, seja no Campeonato Nacional ou Distrital, é assim que as coisas, culturalmente, estão definidas e isso não se vai alterar. Para o Concelho acredito que seja muito rentável ter duas equipas que levem o nome das suas vilas mais longe e que o representem bem, por dar boas condições de trabalho, por conseguirem bons resultados, terem desempenhos e comportamentos condizentes com aquilo que é a prática e a ética desportiva. Acho que é positivo em todos os aspetos e as pessoas começam a olhar para o desporto em Oleiros de outra maneira.
PB – Este ano o distrito de Castelo Branco vai ter quatro equipas no CPP (Benfica e Castelo Branco, Sertanense, ARCO e Águias do Moradal). Que análise faz às outras três equipas?
FP – Eu julgo que dentro deste lote de equipas, as únicas que se estabilizaram ou que têm, pelo passado recente, condições diferentes de encarar o campeonato são o Benfica e Castelo Branco e o Sertanense. Pelos anos que se conseguiram manter com bons desempenhos e a um bom nível. O Oleiros e o Águias do Moradal são clubes que têm uma experiência diferente e que não se pode dizer que tenham solidificado o seu estatuto dentro do CPP. Portanto, são clubes que enfrentam a competição com os mesmos objetivos que outros, mas com condições diferentes.
JORNAL POVO DA BEIRA