O técnico que guiou o CCRD Burinhosa ao topo do futsal nacional faz a antevisão da próxima temporada e adverte para as “dores de crescimento” que o clube está a sofrer. O plantel vai sofrer uma profunda remodelação.
REGIÃO DE CISTER (RC) > A fasquia está muito elevada depois do 3.º lugar e da presença nas meias-finais do playoff da Liga Sportzone na época passada?
KITÓ FERREIRA (KF) > Sem dúvida que sim. Felizmente, podemos dizer que está extremamente elevada. Costumo dizer à minha equipa técnica que criámos um pequeno “monstro” e neste defeso as dificuldades desse sucesso têm-se feito sentir bastante ao nível da programação da próxima época. Por várias razões, sentimos que o CCRD Burinhosa está numa crise de crescimento. Uma crise natural, porque resulta da rapidez com que atingiu o sucesso, que nos traz problemas para os quais não estávamos preparados. A grande verdade é que não está a ser fácil para a estrutura do clube lidar com esta nova realidade, em que toda a gente se sente super valorizada e quer melhorar muito as suas condições para representar o CCRD Burinhosa.
RC > É por essa razão que apenas meia-dúzia de jogadores ficará na aldeia em 2016/17?
KF > Já tivemos de fazer e refazer várias vezes o plantel para a nova época, porque temos de ter presente que baseamos a estrutura do clube num patrocinador, Joaquim Coutinho Duarte, contamos com o apoio da Câmara de Alcobaça e da União de Freguesias de Pataias e Martingança. Mas para competir ao nível a que chegámos essa estrutura não chega ou fica muito curta. É extremamente complicado criar as condições para manter o patamar competitivo do clube.
RC > E como se pode contornar essa dependência?
KF > Há anos que tenho vindo a falar disso. O próprio eng. Coutinho Duarte ficava um pouco atrapalhado quando abordava a questão dessa forma mas, falando num sentido figurado, e se o avião cai? Tenho de ser sensível a tudo o que envolve o clube e aquilo que temos vindo a fazer é no sentido de criar armas e ferramentas à estrutura, conseguindo momentos importantes para a história do clube. Cabe agora aos sócios, aos habitantes da Burinhosa e das aldeias circundantes, ao tecido empresarial da região, ao concelho de Alcobaça e ao distrito de Leiria olhar para este produto que é o futsal, que é hoje a segunda modalidade do País e a primeira de pavilhão. Isto se queremos continuar neste patamar. Olhamos para o campeonato e percebemos que a realidade mudou. Dou os exemplos do Futsal Azeméis e do Unidos Pinheirense, que subiram ao escalão principal e têm orçamentos e ambições muito elevadas. Estamos a falar de clubes que subiram de divisão e que têm estruturas preparadas para estarem no topo da tabela. Se não tomarmos consciência desta realidade o nosso produto, com mais de 100 atletas, pode ficar em risco.
RC > Esta será a edição mais competitiva de sempre da Liga?
KF > Nesta segunda “vida” do playoff, penso que sim. O Sporting está numa aposta clara de querer ser campeão europeu, o Benfica quer voltar a liderar o futsal nacional e temos um conjunto de clubes que apostaram forte. Belenenses e Fundão apresentam-se com uma nova alma, o Módicus vai estar muito mais forte, o Sp. Braga volta a estar fortíssimo e, depois, acrescentam-se estas equipas que acabam de subir de divisão e que terão, certamente, uma palavra a dizer. O CCRD Burinhosa vai continuar a tentar criar condições e momentos ao clube para que se torne num clube sustentável. Não me esqueço que o clube tem apenas dez anos no futsal, que somos uma aldeia com 500 habitantes, onde estamos inseridos geograficamente. Temos de continuar a apostar na formação, para que tenhamos dentro de algum tempo uma grande representatividade da nossa formação no plantel sénior. Isso demora tempo a construir. Não é fácil lançar jovens na “fogueira” da Liga Sportzone.
RC > Mas tem sido possível lançar jovens jogadores…
KF > É uma realidade incontornável. Devemos notar que só há três clubes no País com três equipas na 1.ª Divisão. Falamos de Sporting, Benfica e… Burinhosa. Isso diz bem daquilo que tem sido feito nesta casa. O que quero alertar é para os aspetos menos positivos e nós temos a obrigação de melhorar a nossa formação. Com três escalões nos nacionais é preciso uma logística enorme…
RC > E como é que se consegue colocar o Burinhosa a jogar ao nível dos colossos Sporting e Benfica, disputando um acesso a uma final de um campeonato?
KF > Não vou ser hipócrita. Isto deve-se à qualidade do trabalho de toda a gente que tem passado por esta casa. A começar pelos sócios, pelo povo, pelos diretores, presidentes, seccionistas e, claro, a qualidade dos jogadores e dos treinadores. Temos conseguido marcar alguma diferença. Se calhar somos uma equipa diferente em termos psicológicos, que marca a diferença pelos seus adeptos nos jogos em casa. Esses fatores têm ajudado ao sucesso. O CCRD Burinhosa é, de facto, um caso de estudo, mas isto não tem sido fácil.
RC > O 3.º classificado da Liga não deveria ter jogadores na Seleção Nacional?
KF > É evidente que gostaria que o CCRD Burinhosa estivesse representado na convocatória para o Mundial, até porque até ao 6.º classificado todos os clubes conseguiram fazê-lo. Temos o Russo nos 25 pré-convocados, o que nos deixou bastante felizes, mas deixa-nos tristes não termos jogadores nos trabalhos de preparação para a Colômbia. Estamos com a Seleção e o selecionador, mas fico triste por não termos jogadores convocados.
REGIÃO DE CISTER