Pelo segundo ano consecutivo a Biblioteca será a única equipa da Divisão de Honra distrital a jogar num campo pelado. O treinador admite tratar-se de “um estigma” para a equipa, que, dessa forma, sente mais dificuldades no recrutamento de novos jogadores, mas também para o clube de Valado dos Frades, impedido de apostar a longo prazo de forma mais consistente na formação.
REGIÃO DE CISTER (RC ) > Como é dirigir a única equipa da Honra a jogar em pelado?
PAULO GANAU (PG) > Acaba por ser um estigma. Não é fácil competir numa divisão em que as condições dos outros clubes são sempre melhores do que as nossas, aliada à dificuldade que sentimos em recrutar jogadores em cada início de época. Não é fácil convencer atletas para jogarem pela Biblioteca num pelado, porque a maioria deles estão habituados a jogar em relvados naturais e sintéticos durante o percurso que fizeram nas camadas jovens. Eles torcem um pouco o nariz quando chegam a seniores e os convidamos para jogar num pelado. É por isso que e alguns dos nossos jogadores acabam por sair para outros clubes, nem que seja apenas pelo facto de passarem a desfrutar de melhores condições de trabalho. Acabamos por ser um clube de passagem, devido à falta de condições do nosso campo e isso impossibilita-nos de montar uma equipa para pensar noutros objectivos que não sejam o de lutar, todos os anos, pela manutenção na Divisão de Honra. Recebemos e valorizamos muitos jogadores que são dispensados de outros clubes da região, mas depois não os conseguimos segurar. E não se trata de uma questão financeira.
RC > Ao garantir esse objectivo mínimo, de evitar a descida, os jogadores da Biblioteca são uns “campeões”?
PG > Penso que sim. Temos sempre ambição de fazer melhor do que lutar pela manutenção, mas não é fácil lutar por outros objectivos. A Biblioteca é um clube que não paga a ninguém, os jogadores jogam por amor ao futebol e têm de treinar com um campo sem condições. Devia haver um esforço de parte a parte para melhorar as condições de trabalho e falo, obviamente, da Câmara da Nazaré. Desde que volte ao clube, em 2004, como jogador, que nos prometem o relvado sintético. Quando subimos à Divisão de Honra houve uma promessa de um ex-vereador de que iríamos ver melhoradas as condições, mas nada ainda aconteceu. Todos os anos renovam a promessa, mas a realidade é outra. Já nem sei se acredito que, alguma vez, teremos um relvado sintético…
RC > A Biblioteca perdeu algumas unidades importantes para a nova época, nomeadamente o Tropa, que era uma referência do clube. A equipa fica mais frágil?
PG > O Tropa era um elemento fundamental no grupo, não apenas pelos muitos golos que marcou ao longo da carreira, mas sobretudo pela entrega nos treinos e nos jogos. Cumpriu o sonho de jogar no Nazarenos e desejo-lhe sorte. Não teremos o Tropa, mas haverá outros jogadores para fazerem os golos de que a equipa necessita para atingir os seus objectivos.
RC > Na época passada a manutenção chegou na ponta final do campeonato. Apesar das saídas, é possível fazer um campeonato mais tranquilo?
PG > Partimos com a ambição de fazer melhor do que na temporada transacta e isso significa garantir a manutenção na Divisão de Honra mais cedo. Em 2010/11 apenas atingimos o objectivo na penúltima jornada, pelo que queremos melhorar a nossa prestação em 2011/12. É nesse sentido que vamos entrar em campo em todos os jogos. Perdemos três unidades que tinham sido titulares, o guarda-redes Nuno Saraiva, o médio Dário Veríssimo e o avançado Tropa, mas temos outras soluções.
RC > Chegou a admitir a saída, mas acabou por ficar mais uma época como treinador. Porquê?
PG > Em termos profissionais tenho alguma dificuldade de horários para treinar, porque trabalho por turnos, pelo que tentou-se encontrar um treinador com maior disponibilidade. Isso não foi possível e acabei por renovar, sendo que o Pedro Joel vai acumular as funções de jogador com as de treinador-adjunto, o que já aconteceu na época 2009/10.
RC > É mais uma missão de serviço que ambos vão prestar ao clube?
PG > É um esforço que vamos fazer, porque gostamos da Biblioteca, mas é mais uma prova de que, quando estas pessoas se cansarem, o futebol em Valado dos Frades corre riscos de terminar. E seria uma pena que isso viesse aacontecer, porque este clube podia ser uma referência do futebol no distrito, caso tivesse outro tipo de condições. Como sabemos, boa parte dos clubes cobra quotas mensais aos seus atletas e na Biblioteca pratica-se desporto de forma gratuita. Se tivessemos um relvado sintético e outras condições, poderíamos receber mais e melhores jogadores. Neste momento, não podemos atrair mais atletas, porque as condições que temos para lhes oferecer são mínimas e, hoje em dia, toda a gente quer jogar em relvados, o que é perfeitamente legítimo. Jogar e treinar no nosso campo é um martírio: no Inverno temos lama e no Verão há pó.
Joaquim Paulo