O Ginásio Clube de Alcobaça arrancou na passada sexta-feira os trabalhos da nova época, na qual vai competir na 3ª Divisão nacional. O técnico Walter Estrela considera que a equipa tem qualidade para garantir a permanência e que o clube pode almejar novas metas para os próximos anos. Garante que a constituição do plantel é da sua exclusiva responsabilidade e que, ao contrário da época passada, a equipa tem tudo para ganhar e nada a perder.
Região de Cister (RC) > O Ginásio volta aos nacionais praticamente com a mesma equipa que se sagrou campeã da Divisão de Honra Distrital. O grupo dá garantias de sucesso desportivo?
Walter Estrela (WE) > Confio plenamente no plantel. É verdade que esta é praticamente uma equipa que transita da época passada e
que, de momento, tem apenas alguns reforços, mas confio nos jogadores. O plantel dá-nos a ilusão de poder dar continuidade ao trabalho
que vem detrás. Temos a ambição de fazer um bom trabalho e gostava de dizer às gentes de Alcobaça que, enquanto eu estiver no Ginásio, nada, nem ninguém, estará acima do clube. Todas as decisões são tomadas em consciência e em função daquilo que entendo ser o melhor para o clube, podendo estar certo ou errado. Aquele tipo de pressão que existia em relação à gestão do clube acabou.
RC > Está a referir-se à elaboração da lista de dispensas?
WE > Um jogador do Ginásio, por mais antigo que seja, tem de justificar todos os dias o porquê de estar no Ginásio. Quando não for assim, nãocontem comigo. Eu sirvo o clube, não sirvo pessoas. Foi minha a responsabilidade da escolha dos jogadores, por isso não acusem ninguém,nem a Direcção. Eu assumo inteiramente as escolhas que fiz.
RC > Existe a noção de que a 3ª Divisão é, hoje em dia, menos competitiva do que era há alguns anos. Concorda?
WE > Não quer dizer que seja um campeonato mais fácil, mas certamente é menos competitivo. Creio que isso sucede devido à reestruturação
dos próprios campeonatos – aliás, nunca percebi bem o que se ganhou com a criação das duas séries na 3ª Divisão – e também em face da crise económica que tem assolado o País. Os clubes têm grandes dificuldades, alguns deles até estão a acabar, e isso fará com que, dentro de dois/três anos, a própria Divisão de Honra seja um campeonato mais atractivo para os clubes do que a 3ª Divisão nacional.
RC > Como se motiva um jogador que, ao longo dos anos, vê reduzidos os subsídios que recebe dos clubes?
WE > Dizendo-lhes que, por muito que se ganhe dinheiro, se não se tiver a paixão pelo jogo, pelo futebol e a ambição de ganhar, eles podem ganhar uma fortuna que nunca serão felizes. O que tento é transmitir-lhes a paixão que também senti pelo futebol. Um jogador que aceita uma proposta de um clube deve ser sério. E nos clubes teremos de ser exigentes, mas também dialogantes, para compreender o jogador e o jogador compreender o clube. Adoro aquilo que faço e como tenho ambição de chegar mais alto, também gostaria de ajudar alguns dos meus jogadores a atingirem esses patamares.
RC > Tem tido uma carreira sustentada desde os juniores do Nazarenos, com uma Taça no Pataiense e um campeonato no Ginásio. Esta época, apesar de disputar a Supertaça Distrital, está preparado para uma época sem títulos?
WE > Não. Estou preparado para um ano de títulos. Não estou a dizer que vamos subir ou ganhar a Supertaça. Sei que são esses os títulos que ficam, mas também tenho de ter a capacidade de perceber que se tivermos a capacidade de ter o Ginásio nos nacionais em posição de destaque e valorizar os jogadores, isso já será um título. Na época passada toda a gente nos exigia o campeonato e tínhamos tudo a perder. Esta época é o inverso. Temos muito para ganhar, porque ninguém nos exige seja o que for, além da manutenção. A maior pressão que os jogadores vão sofrer é a pressão do treinador, que vai querer ganhar todos os jogos.
RC > O Ginásio é um histórico. Tem condições para continuar a crescer como nos últimos anos?
WE > Tem condições, mas precisa de mais e melhores infra-estruturas. As camadas jovens ainda jogam num pelado… Não basta ter 300 jogadores nas camadas jovens. É preciso dar condições aos atletas e aos treinadores. A Direcção do Ginásio e as autoridades locais têm de dar alguma abertura ao clube. Não sou da opinião que se acabe com o Estádio Municipal, mas não tenho dúvidas de que o Ginásio precisa de melhorar as condições físicas. Costumo dizer que não nos falta nada, mas falta-nos tudo. E temos tudo e falta-nos muita coisa.
RC > O futebol do distrito está em crise?
WE > Está em crise há um bom par de anos, porque os presidentes que eram mecenas estão a acabar, as empresas que patrocinavam os clubes estão em dificuldades… Se falarmos em termos desportivos, não creio que haja crise. Os jogadores que andaram a jogar na 2ª e na 3ª Divisão vão recebendo menos e começam a regressar aos clubes da terra, que ficam mais fortes.
RC > A derrota em casa no dérbi com o Nazarenos, treinado pelo seu irmão Wilson, foi o momento mais negativo?
WE > Perder é sempre negativo. Só tivemos três derrotas ao longo do campeonato e em duas delas merecemos perder: na Benedita (0-1) e
em casa com o Nazarenos (0-1). Conheço bem o meu irmão, que ele nos iria dificultar a tarefa ao máximo, estávamos numa fase de transição e creio que o Nazarenos foi a equipa que melhor se adaptou ao jogo. Essas derrotas doeram, mas o que mais me magoou, porém, foi a eliminação na Taça Distrito de Leiria [com o U. Matamourisquense, nos penáltis]. E a lesão grave do Silva.
Joaquim Paulo