Adélio Amaro, depois de uma carreira como jornalista e agora como empresário (Editor) abraçou, também, a de treinador. Com enorme sucesso está a treinar a equipa de Petizes A da União Desportiva de Leiria, desde o início da época, e ambiciona continuar no Clube. Recentemente colocou esta equipa em terceiro lugar na Liga Zon Kids, em Massamá, onde o Sporting alcançou os dois primeiros lugares. Gosta de apontar e esquematizar todos os trabalhos de treino e jogos e até um simples guardanapo de café serve para apontar ideias, guardando-o no bolso do casaco, como aconteceu aquando da nossa entrevista. Adélio Amaro diz ver o futebol de “forma diferente” e fica com os olhos húmidos quando fala dos feitos dos seus “meninos”. Este unionista de alma e coração, sócio vai para 20 anos, escolhe Vítor Pontes, Paulo Duarte e Pedro Caixinha como treinadores de eleição.
A sua equipa ficou, recentemente, em terceiro lugar na Liga Zon Kids, em Massamá, um torneio nacional onde marcaram presença os clubes de maior destaque de Portugal. Esperava esse lugar?
Foi um torneio muito interessante. Os jogadores levantaram-se às 6h30 da manhã e fizeram 6 jogos num dia. Foi muito duro. Mas, a dedicação deles foi exemplar. Jogaram com as equipas de maior referência a nível nacional, venceram todos os jogos e apenas perderam com o Sporting o que permitiu alcançar um honroso 3.º lugar, entre 18 equipas. Foi um dia interessante, onde os pais tiveram um papel preponderante no apoio organização na participação nesta iniciativa. O objectivo era passar a fase de grupos. Para tal, era necessário ganhar 3 dos 4 jogos do grupo. Foi o que aconteceu. Depois a luta foi com a Sporting e a Benfica. A primeira colocou duas equipas nos dois primeiros lugares e a segunda perdeu connosco, ficando, assim, o terceiro lugar para a União de Leiria. Por isso, por todo este esforço e esta dedicação, digo e dedico este triunfo aos jogadores e aos pais. O prémio é deles. Eu, apenas, tento levar a efeito o meu trabalho de treinador que vai além dos treinos. Tudo, treinos e jogos, têm de ser pensados e esquematizados.
Como surgiu o convite para treinar?
O convite surgiu do União Desportiva de Leiria. Esta foi sempre a minha equipa. Ao contrário da maioria das pessoas, não sofro de “amores” por nenhum dos chamados “grandes”.
Quando esse convite surgiu eu tinha outros dois clubes interessados, até para outros escalões, mas não resisti ao meu Clube. Antes de treinar estudei a psicologia infantil para entender as crianças. Durante dois anos dei aulas (Actividades Extra Curriculares) apenas para entender o comportamento das crianças. Depois surgiu a frequência no curso de Monitores de Futebol de 7 da Associação de Futebol de Leiria.
Que balanço faz dos primeiros meses à frente dos Petizes da U. Leiria?
Este escalão é aquele que quase nenhum treinador pretende. Todos ambicionam outros escalões. Aceitei o desafio e fui, lentamente, moldando a equipa aos princípios que durante dois anos fui estudando e anotando. Aos poucos a equipa foi correspondendo e fui fazendo amigos entre os jogadores. É disso que se trata – nós somos um grupo de amigos. O balanço, na minha modesta opinião, é bastante positivo. Dos 20 jogos que fizemos vencemos 15, empatamos 2 e perdemos 3, sendo de salientar que duas derrotas foram frente ao Sporting da Academia de Alcochete. A equipa marcou mais de 100 golos e apenas sofreu 37. Sei que não fica bem a um treinador falar nestes moldes. Mas, tenho que salientar que estes números são fruto da dedicação daqueles meninos e do apoio que os pais lhe dão. E, é muito interessante observar que todos eles são bons alunos.
Mas, independentemente dos resultados, o mais importante é a amizade e o convívio entre eles, não esquecendo que estão numa Academia e como tal estão a receber formação para uma modalidade que é o futebol.
Resumindo, acho que o balanço é muito positivo e isso devo-o a todos os jogadores, mesmo todos, e aos pais que têm sido uma verdadeira equipa.
Sei que recebeu, recentemente, convites para treinar equipas de Sub 12 de outros clubes. No fim da época vamos ver o Adélio Amaro a treinar uma equipa de outro escalão num noutro clube?
(Risos) Sabe?! As notícias espalham-se rapidamente. Não passaram de meras conversas. Eu não procuro nada. Aquilo que pretendo é servir a minha equipa e o meu Clube. Tenho um acordo com a União Desportiva de Leiria, tenho um compromisso com esta equipa e vou honrar a minha palavra até ao fim da época. Depois, espero continuar no Leiria. Esse é o meu objectivo. Mas, não depende só de mim. As propostas que surgiram ou venham a surgir têm de ser reencaminhadas para o Leiria. E, que eu saiba, ainda não lá chegou nenhuma.
Mas, e se surgir uma proposta tentadora para treinar uma equipa de formação num outro clube?
Tentadora? Mais tentadora do que treinar na União Desportiva de Leiria? Acho isso muito difícil. Repare, a Academia da União de Leiria tem dado muitos frutos. Tem desenvolvido um papel muito interessante na formação. Quer se goste ou não, a União de Leiria está a revelar valores. Fruto disso são os jogadores que começam a aparecer nas equipas seniores.
Portanto, uma “proposta tentadora” é continuar a trabalhar com a União Desportiva de Leiria.
Isso significa um outro escalão que não os Petizes?
Isso significa União Desportiva de Leiria. E, treinar os Petizes, neste momento, para mim, é uma honra. Esta tem sido uma equipa, no seu global, jogadores, pais e familiares, muito interessante. É uma equipa que consegue, em determinados momentos, ter meia centena de adeptos, como aconteceu em Massamá onde os pais alugaram uma carrinha de 26 lugares e mais alguns carros, para acompanhar a equipa. Isto chama-se empenho e valorização perante um Clube que se chama União Desportiva de Leiria. Chegar a um torneio como aquele e colocar o nome do União de Leiria no meio de outros clubes de grande referência é para nós gratificante. Eu não sei se o sucesso desta equipa se deve ao treinador. Agora, sei e tenho a certeza que o sucesso é composto por jogadores e pais. Ambas as partes vestem a camisola leiriense e não se cansam de gritar “União”.
Os Petizes são a base de qualquer formação. Quem pensar o contrário está bem enganado. E, digo-lhe, sei o que quero, sei para onde quero ir mas não sei as “passadeiras” que me colocam à frente, porque nunca pensei que uma equipa tão humilde como esta fosse alvo de tantas questões que por vezes estragam o futebol.
Está a falar de quê, concretamente?
Não vou referir. Não quero contribuir para polémicas. Apenas quero contribuir para a formação de crianças. Formação que não pode passar pela ilusão de se querer ser um “Ronaldo” mas, sim formação para ser um adulto equilibrado e que no futuro possa ouvir dizer da boca destas crianças que «o futebol como modalidade, como grupo, como convívio e como formação contribuiu para a minha valorização pessoal e para o meu crescimento como jovem». Tudo o resto são sonhos que por vezes estragam essa valorização.
Quais as suas ambições como treinador?
Neste momento as minhas ambições passam por esta equipa. Tenho ambições para o futuro. Mas, ficam para mim. Apenas quero evoluir dentro deste Clube.
Gostava de treinar uma equipa de futebol de 11?
Claro que sim. Mas, para já, antes de conseguir treinar qualquer equipa de futebol de 11 gostava de fazer um estágio com um treinador de eleição. Tenho estudado várias coisas relacionadas com o futebol, principalmente de espanhóis e brasileiros, e entendo que o futebol também é evolução a começar no relacionamento entre treinador e jogadores. Mas, isso são outras coisas…
Quais são os treinadores de eleição para si?
Todos aqueles que ajudaram a União Desportiva de Leiria a ser um clube de I Liga são para mim os treinadores de eleição. E, parece, que um deles é o melhor treinador do Mundo, outro ainda é Campeão Nacional, outro campeão no Egito… Mas, não esqueço duas referências para a União Desportiva de Leiria: Vítor Pontes e Paulo Duarte. Neste momento, o treinador de eleição é o Pedro Caixinha.
Como analisa o sucesso da formação da U. Leiria?
Eu não sou a pessoa certa para falar do sucesso da formação. Mas, o trabalho desenvolvido nos últimos anos, com muito esforço sei do que estou a falar, tem mostrado bons resultados. Todos conhecem o Ruben Brígido, entre outros. E, isso é resultado da formação do Leiria. Isso é resultado dos treinadores de formação do Leiria.
Não é por nada que Sporting, Benfica e Porto conhecem bem o fax e o endereço electrónico da formação do Leiria. Fico-me por aqui.
O Adélio já foi jornalista. É mais difícil ser jornalista ou treinador?
São tarefas totalmente diferentes. Difícil seria ser jornalista e treinador.
Cid Ramos