Chamem-lhes serranos, o que quiserem. A verdade é que quem visita o Estádio Municipal de Alvaiázere volta para casa com uma triste história para contar. Há mais de dois anos, desde o dia 23 de Novembro de 2008, que o Grupo Desportivo de Alvaiázere não sabe o que é perder no seu campo. E até essa derrota foi na secretaria… Há equipas que transformam o seu reduto num campo inexpugnável, onde é difícil alguém vencer.
Seja pelo apoio dado pelos adeptos, pelas dificuldades de adaptação dos adversários às medidas do Estádio, ou por algum factor inexplicável, é essa a realidade do Grupo Desportivo de Alvaiázere, equipa que representa a pequena vila no interior do distrito de Leiria na Divisão de Honra de futebol.
Passaram 33 jogos ou 781 dias desde a última derrota sofrida pela equipa orientada por Paulo Neves e mesmo essa, frente ao Pelariga, foi decretada na secretaria pela Associação de Futebol de Leiria.
“Disseram que havia um jogador mal inscrito”, lamenta o treinador. Com uma subida à Divisão de Honra da Associação de Futebol de Leiria pelo meio, os dias passam, os adversários vão sendo sucessivamente
derrotados e não há quem pareça incomodar o Alvaiázere no seu reduto. São nada mais, nada menos do que 30 vitórias alcançadas e apenas três empates concedidos.
Derrotas, nem uma. Mas afinal de onde vem o segredo para tantos sucessos em casa? Será do consumo do chícharo, uma planta leguminosa com grande tradição nesta região e rica em lípidos, hidratos de carbono, fósforo e potássio? Entre os adeptos mais velhos há quem diga que sim, mas não é essa a versão oficial.
Segundo o presidente, Mário Bruno Gomes, são dois os motivos para haver, em pleno Pinhal Interior, uma equipa de futebol que não quer deixar mal os seus adeptos. Por um lado, “a alma serrana”, de “antes quebrar que torcer” dos atletas, a maior parte originária de Alvaiázere. O outro, o treinador, uma espécie de José Mourinho da serra. “Nunca vi ninguém trabalhar tão bem todos os aspectos do treino. Ele tem os jogadores na mão.”
Já o técnico Paulo Neves aponta a qualidade e a formação pessoal dos jogadores, “a maior parte com curso superior” e as “óptimas condições de trabalho” para o sucesso da equipa. A verdade é que ainda há muito adversários que os vêem como “serranos”, como se os “pudessem enganar”. “Nós fingimos que sim. É algo que joga a nosso favor”, salienta Paulo Neves. Mário Bruno Gomes até gosta que os tratem assim.
“Há quem não tenha nada, mas os alvaiazerenses têm a serra para se poderem orgulhar”, diz. Ao fim de 13 jornadas, o Alvaiázere ocupa a quinta posição da Divisão de Honra da Associação de Futebol de Leiria, mas já a distantes 10 pontos do líder Ginásio de Alcobaça. Em casa tem cinco vitórias e um empate.
Foram, uma vitória, três empates e três derrotas. E o futuro do clube, que para esta época tem um orçamento de 80 mil euros, como será? O sonho de regressar à 3ª Divisão, onde o clube fundado em 1979 esteve em duas ocasiões (82/83 e 85/86), existe, mas bem presente está a realidade de um “pequeno concelho do interior com não mais de sete mil habitantes”. E o presidente dá o exemplo. “ Alcobaça deve ter tantos
praticantes de desporto como Alvaiázere habitantes.” Por isso, pese as “excelentes” condições existentes para a prática do desporto no concelho, o importante é “formar homens e atletas”.
Sem perder há mais de dois anos
13 Janeiro 2011 Cid Ramos